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Gestão de risco e Continuidade do negócio - Qual o tamanho da crise?


TS 219Sustentabilidade e Gestão 10 de abril de 2020 | Por: Portal TS
Gestão de risco e Continuidade do negócio - Qual o tamanho da crise?

Não há como mensurar os impactos da Covid-19 em nossas empresas, mas é possível praticar algumas técnicas de gestão para minimizar suas consequências

Cacilda Drumond

Mestre em Meio Ambiente, Engenheira Civil e de Segurança do Trabalho e Especialista em Sistema de Gestão – QSMA.

drumondcacilda@gmail.com

Lá fora vemos pela janela o próprio conceito do imensurável ou aterrorizante. Estamos há dias de quarentena e, absolutamente, diante de um cenário imprevisível. Sim, não se fala em incidente já que há uma pandemia e nem todas as notícias são questionáveis mas nem todas as opiniões são, também, consensuais. Dados vêm acompanhados de subnotificações e prognósticos nos levam a um amontoado de pensamentos que vão muito além de uma eventualidade.

Mesmo imersos na realidade de empresas que gerenciam problemas e incidentes o tempo todo, quando fazem gestão de negócios, a Covid-19 traz uma carga de dados que, se contrapondo ou não, ainda tem magnitude proporcional à provável impotência até agora apresentada.

Mesmo sob o efeito de alguns dias do Brasil em alerta, a pergunta que ecoa não é mais sobre nossos níveis de preparação e reação, nosso capital humano, nossa projeção nas redes sociais, nem a imagem da nossa organização no ranking x, y ou z, em que nível for. Nossas partes interessadas clamam por algum direcionamento, como personagens impactantes e impactadas, no meio do furacão, no olho do tsunami, no cerne da questão. As esferas política, econômica, social e tantas outras vão de encontro à esfera maior: a esfera humana. De um lado, alguém brinca com os filhos na sala e, de outro, alguns atualizam seus fluxos de caixa e se deparam com o fantasma que assombra: o que está por vir? O que fazer com a impossibilidade de produzir se não nos couber o homeoffice? E, enquanto couber, para quem vamos produzir se não houver quem consuma nosso produto? Não é sobre necessidade, é sobre poder de compra, sobre não sabermos aonde estamos sendo levados.

Modelos de gestão

Ainda que já tenhamos determinado e testado nossos planos de contingência ou criado algum no meio do caos que se formou, instantaneamente, estamos diante de uma crise maior. A Covid-19 atravessou nossas fronteiras e, além de toda influência dos países que já pagaram um preço alto, não nos acalmam as diretrizes estratégicas ou de qualquer modelo de gestão de riscos porque não inspiram sobrevivência do sistema em que estamos inseridos. Não há cases de sucesso que divulguem a maturidade dos processos de gerenciamento de crises, diante do que inunda o país. Alguns falam em pânico desnecessário, enquanto a fábrica roda com déficit de pessoal. Alguns falam em  falidos, quando choram a possibilidade de falecidos. Sim, tudo se mistura porque a continuidade grita questionando o que será de nós.

Muito tem se falado em monitoramento de riscos e, diante da complexidade e impacto já reais, não sabemos qual esforço se aplica. Há solução ou resposta para mensurar algo cujo alcance ainda não conhecemos? Independentemente da diversidade de opiniões, o medo é comum.

Crise x Gestão de Riscos

Provedores externos, governo, pessoas, investidores, clientes e processos de todas as ordens esperam respostas, enquanto pensamos a dor e pesamos como fazê-la menor. Como não comprometer a perenidade, a reputação e a sustentabilidade do negócio?

Estamos na parte da gestão de riscos que sobrepõe os processos de identificação, avaliação, tratamento, monitoramento e  comunicação dos riscos pertinentes às atividades como base decisória estratégica. No meio do desconhecido, tudo parece ter o mesmo nível de prioridade, além da cobrança generalizada que a ansiedade traz.

Aos gestores, cabe rodar um modelo PDCA1 por curtos espaços de tempo no desafio de manter a situação sob controle, assolados por um fator de alta significância. O invisível desestrutura nossos colaboradores, coloca em xeque a nossa imagem e nos desafia ao próximo passo. Mesmo em tão pouco tempo, precisamos pensar e repensar. Sobretudo, por não termos ideia do destino ao qual seremos levados, nem o preço a ser pago, nem mesmo a coerência entre os riscos e os controles, até porque a deficiência de controles é declamada no possível colapso do sistema de saúde nacional. Aqui, paira e cresce o pânico. Aqui, não parece excessivo nenhum zelo. 

O que podemos usar dos conceitos de gerenciamento de crise?

Um plano de gerenciamento de crise traz ações e os responsáveis, tempestivamente, olhando para o risco sob a ótica humana, além de tantas outras. A abrangência adequada - até quando e até onde tudo isso pode respingar? – pode ser crucial para definição de prioridades e, necessariamente, de  respostas proporcionais aos possíveis dias seguintes. No meio do caos ou, mais precisamente, na iminência do caos, é preciso enxergar os cenários possíveis, prováveis e até os improváveis. Diante deles, se estipularmos ações e meios de torná-las viáveis, poderemos ter a medida necessária. Como um remédio amargo, como o tempo que nos faz ter que esperar, como a alternativa que se torna única. Se não sabemos o quanto vai doer, é preciso usar o tempo pra pensar, sim, nas possibilidades.

Muito provavelmente é o que temos pra hoje! É o que pode minimizar o impacto humano, ao respeitar os níveis de risco em que as pessoas se encontram, levar transparência aos nossos stakeholders, transmitir confiabilidade e, finalmente, trazer para o mundo corporativo a prática real da bonita palavra: empatia. Afinal, estamos todos no mesmo barco. Ou, infelizmente, estamos cada um de nós em seu aquário e, nele, peixes pequenos ou tubarões, precisarão de preparação, planejamento, monitoramento, resposta. Depois disso ou, intermediando cada ciclo, a recuperação, envolvendo todas as esferas, todo o tempo, onde puder ser acessada.

(1) PDCA é uma ferramenta da qualidade utilizada no controle de processos, que tem como foco a solução de problemas e sua aplicação consiste em quatro fases: P (Plan: planejar), D (Do: fazer), C (Check: verificar) e A (Act: agir). 

Acesse o conteúdo original publicado na revista Tratamento de Superfície, edição 219, página 43-44

Acesse a edição 219 digital | Abril 2020

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