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“A jornada do aprendizado é para vida toda”


Grandes ProfissionaisTS 229 26 de maio de 2022 | Por: Portal TS
“A jornada do aprendizado é para vida toda”

 

Do chão de fábrica à área comercial, conheça a vida profissional de Ismênia Olinda A. Scavone, com mais de 40 anos dedicados ao setor 

 

 

Em regra, é comum vermos profissionais oriundos da licenciatura migrando para a indústria e/ou fazendo um curso com maior foco na atividade operacional, mas com Ismênia Olinda A. Scavone, o processo foi inverso. “Em 2005 iniciei o curso de Licenciatura e Bacharelado em Química, concluindo em dez/2007. Pretendia dar aula assim que me aposentasse, porém, a paixão pela indústria falou mais alto”, conta. Desde 1980, então como aluna de Engenharia Química, nas Faculdades Oswaldo Cruz, ela iniciou um estágio na Oxy Metal Industries Brasil, conforme ela revela: “Atuando no laboratório de Controle de Qualidade de Processos para Galvanoplastia, sob a supervisão do Engenheiro Químico Aloísio Spina, a Gerente de Processos na linha Udylite; Janete Catelan Araújo Alves (in memoriam) e Josefa Leite da Cunha, Chefe do Laboratório de Assistência técnica ao cliente; profissionais que na época me incentivaram a encantar com a área de Tratamento de Superfície. Aprendi muito com eles a pesquisar, desenvolver e a controlar processos fabricados e utilizados na indústria de Tratamento de Superfície durante os três anos que permaneci na empresa”; e já se vão mais de quatro décadas em TS.

Passando por diferentes áreas de atuação, durante esse tempo, Ismênia não deixou de lado a busca por atualização em seus conhecimentos, tendo realizado cursos e feito outras graduações, até culminar com a pós-graduação em TS, também nas Faculdades Oswaldo Cruz, em 2009. Ela detalha: “Tudo começou em 1976 quando cursava o Ensino Médio e me apaixonei pela disciplina de Química, a qual me fascinava estudar as reações químicas; química orgânica e inorgânica; eletroquímica entre outras. A decisão final aconteceu no final de 1977, quando prestei vestibular para o curso de Engenharia Química nas Faculdades Oswaldo Cruz, uma das mais tradicionais na área de Química. Iniciei o curso em 1978, concluindo-o em dez/1982. Em abril/1983, fiz o 16º Curso Básico de Galvanoplastia, promovido, na época, pela Associação Brasileia de Tecnologia Galvânica e Tratamentos de Superfície e Sindicato da Indústria de Proteção, Tratamento e Transformação de Superfícies do Estado de São Paulo, no prédio da FIESP. Participei de inúmeros cursos pela ABTS; CRQ 4ª Região (Resíduos gerados em laboratório); ABRACO (Primeiro Encontro de Proteção e Corrosão Argentino Brasileiro em Foz de Iguaçu, em 1988; 2º Encontro Internacional de Circuito Impresso, em 1988; 1º Seminário de Controle Total de Qualidade para Indústria de Tratamento de Superfície, pela ABTS e SINDISUPER, em 1988); Treinamento- IMDS (International Material Data System, pelo SINDIPEÇAS, em 2009, e IMDS avançado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para veículos Automotores); Gestão da Medição e Cálculos de Incertezas de Medição (Setting Calibrações e Ensaios, em 2010); participação em todos EBRATS (o 1º pela Itamarati Metal Química, em 1983; até o mais atual , em 2018, pela Tratho Metal Química). Participei, em 1985, como palestrante no EBRATS com o tema: ‘Desengraxe e Decapagem de Superfícies Metálicas ou Não Metálicas’. Em 2005, iniciei o curso de Licenciatura e Bacharelado em Química, concluindo em dez/2007. Pretendia dar aula assim que me aposentasse, porém, a paixão pela indústria falou mais alto”; e na indústria a executiva segue até hoje atuando, na Tratho Metal Química, “junto ao Laboratório de Qualidade como MEI (prestadora de Serviços), colaborando na emissão de FISPQ’s e cadastros dos produtos no IMDS (International Material Data System), e na elaboração de PPAP’s para clientes que prestam serviços para montadoras automotivas”; tudo de maneira mais suave, como ela mesma explica: “Atualmente meu objetivo é de continuar a trabalhar de uma forma mais light (home-office) e, para o futuro, planejar uma viagem ao exterior, onde meu sonho é conhecer alguns países da Europa, principalmente Portugal. Depois de um tempo voltei a estudar inglês, um idioma que me fascina”, diz. 

Atuação na indústria

Iniciando suas atividades profissionais como estagiária, na Oxy, por três anos, logo após, passou para área de qualidade, na Itamarati, uma oportunidade que rendeu uma parceria de mais de 10 anos. “Em 1983 recebi uma proposta desafiadora para ocupar o cargo de Supervisora de Laboratório na Itamarati Metal Química, fundada em 1982, que alavancaria minha carreira e aprimoraria meus conhecimentos junto ao Diretor Sr. Aníbal Fortunato de Souza. Na época, a empresa investia em pesquisa, em parceria com IPT, a fim de desenvolver processos puramente nacionais, que garantissem a qualidade dos produtos acabados com custo acessível e que atendessem às necessidades dos clientes. Ao todo, foram 12 anos de empresa divididos em dois períodos (1983 a 1989) e (2006 a 2012), conta. 

Após, Ismênia atuou em diferentes companhias do setor, como Tecnorevest Produtos Químicos; Alpha Galvano Química; Coventya; Dileta Produtos Químicos; e, atualmente, Tratho Metal Química (desde 2013). “Em cada uma delas costumo dizer que foi uma somatização de experiências novas no segmento de Tratamento de Superfície, procurando sempre aprimorar cada vez mais meus conhecimentos”, diz. 

Tal diversificação a levou a ampliar ainda mais sua área de atuação, ela explica: “Na Tecnorevest (1992-1994) tive oportunidade de atuar no Departamento de Metais Preciosos com a fabricação de Processos de metais preciosos, tais como banhos de pré-prata e prata brilhante, free níquel (estanho-cobalto, cobre/estanho e zinco, etc.), folheação ácida e alcalina, fabricação de sal de ouro (cianeto duplo de ouro e potássio). Desenvolvimento de processos de metais preciosos e assistência técnica a clientes – em conjunto com Denise Martins, grande profissional do setor, atualmente diretora da EuroLab Indústria e Comércio Ltda.”. 

Ela destaca: “Adquiri uma vasta bagagem na indústria, entre elas: pesquisa e desenvolvimento de processos e/ou novos produtos; conhecimentos de know-how de empresas estrangeiras associadas à formuladores de processos; análises instrumentais em espectrofotometria de Absorção Atômica; Implantação de ISO 9001:2015; rotinas da Garantia da Qualidade (SGQ); ensaios de corrosão em câmara de salt spray, segundo norma ASTM B-117; interpretação e emissão de relatórios aos clientes; experiência em tratamento de efluentes(ETE); descarte zero e banhos galvânicos em geral tanto decorativos como protetivos”, descreve.

Importante lembrar que todo esse trabalho foi aliado à maternidade: “Momentos pontuais vividos em paralelo com a vida profissional foram o fato de conciliar ser esposa, dona de casa e mãe; não é fácil, mas quando colocamos amor em tudo que fazemos torna-se prazeroso. Manter o equilíbrio e organização em ambos os campos é uma dica que sempre coloquei em prática”, aconselha.

Principais desafios

Ismênia, assim como outras executivas do setor, foi umas das pioneiras no trabalho com assistência técnica e na atuação no ‘chão de fábrica’ da indústria. “A atuação da mulher no campo na área de assistência técnica ao cliente era mais um desafio a ser vivido décadas atrás, onde normalmente a mulher era contratada para trabalhar interno em laboratórios. Para vencer barreiras, na época procurei me especializar cada vez mais e compartilhar informações técnicas com operadores de linha e chefes de produção, pois, ao mesmo tempo, era uma forma de aprender mais e adquirir experiências novas. Atualmente o papel da mulher em ‘chão de fábrica’ conquistou espaço, destaque e respeitabilidade, exercendo cada vez mais cargos de liderança e gestão na área produtiva no setor de Galvanoplastia em geral”, destaca.

Não foi fácil, inclusive, ela pontua essa fase profissional como uma das mais desafiadoras: “Um dos momentos mais desafiadores vivenciados no setor foi quando passei a visitar clientes em ‘chão de fábrica’, acompanhando linha de produção, quer seja na implantação de um processo novo ou na área de assistência técnica na resolução de problemas técnicos com o objetivo de não interromper o ciclo produtivo, aliando o conhecimento técnico interno com a prática. Outro desafio para mim foi ter atuado na área comercial (vendas de matéria-prima e de metais não ferrosos), da Tratho Metal Química, aliado ao Departamento de Controle de Qualidade”, diz e acrescenta: “Desde que ingressei na Tratho Metal, em 2013, aprendo muito com quem considero um grande empreendedor no setor, o sr. Marcelo Rica. Foi muito gratificante, pois associei o conhecimento no setor de Tratamento de Superfície (fabricantes de processos; clientes prestadores de serviços e fabricantes em vários segmentos tais como metais sanitários; moveleiro; acessórios; bijuterias; semijoias; peças de reposição no setor automotivo; parafusos; fechaduras; linha branca; entre outros) com a arte de vender”, conclui.

A indústria hoje

Após tanto tempo atuando no setor, Ismênia tem uma visão abrangente sobre o mercado e seu desenvolvimento e aguarda a retomada pós-pandemia, sabendo que, apesar de todos os infortúnios trazidos por ela, houve ampliação de mercado. “Infelizmente muitas empresas fecharam literalmente as portas, gerando ainda mais desempregos. Algumas empresas procuraram driblar a crise vivenciada no setor de tratamento de Superfície passando a ampliar sua divisão de negócios a outros segmentos, tais como: alimentício; cosméticos; agricultura; curtume, entre outros; tornando-se uma Empresa Multigmentar. Lógico que frente à situação atual, como a guerra no Leste europeu, entre a Rússia e a Ucrânia, vem afetando o mercado brasileiro quanto ao fornecimento e elevação de preços de alguns produtos químicos, dos metais ferrosos e não ferrosos e derivados do petróleo”.

Sobre o desenvolvimento do setor, a executiva destaca a tecnologia com viés ecológico e a busca por processos que evitem prejuízos ao meio ambiente. “Pude constatar diversos processos ecológicos no setor de TS (processos atóxicos; biodegradáveis; processos isentos de metais pesados, tais como Cd e Pb, para atender, principalmente o setor automotivo na Diretiva ROHS e Reach). Processos ecológicos, no geral, contribuem, e muito, na indústria em relação ao tratamento da água, gerando menor resíduo para a ETE; menor consumo de água na fábrica, possibilitando reutilizar essa água para limpeza da empresa, em descarga nos sanitários; minimizando ao máximo o impacto ambiental e também em relação à saúde humana. Dentre os processos ecológicos desenvolvidos há mais de duas décadas, já implantados no setor de TS podemos citar: passivadores trivalentes azul, amarelo e preto (isentos de cromo hexavalente); processos organometálicos (compostos de partículas metálicas e resina mineral orgânica com finalidade de aumentar a resistência à corrosão); desengraxantes biodegradáveis; decapantes (isentos de ácidos atóxicos); níquel químico( isentos de Pb e Cd); cromo trivalente decorativo (utilizado em bicicletas e linha branca); zinco sem cianeto (isento de cianetos); níquel free alcalino (liga ternária); zinco níquel alcalino (desenvolvido para substituir banho de cádmio – antigamente utilizado no setor automotivo e petrolífera); entre outros. Dentre os processos ecológicos mais recentes, podemos destacar: Cromo duro trivalente (aplicado geralmente em hastes de amortecedores no setor automotivo); zinco níquel ácido (para ser aplicado em peças de ferro fundido); passivador trivalente preto com aplicação de um selante nanoparticulado (à base de Si coloidal). Segundo artigo técnico recente, a partir de 2024, na Europa, o uso de cromo hexavalente em banhos de cromo duro será excluído e, futuramente, em todos os outros países também, para atender o setor automobilístico”.

Ismênia também destaca o níquel free ácido, como um processo ecológico em desenvolvimento no mercado: “O processo mais antigo é composto de uma liga ternária (Sn-Cu e Zn) contendo cianeto, que atua como complexante”, explica, e complementa: “Sempre existirão evoluções tecnológicas com a finalidade de atender as necessidades e exigências do mercado cada vez mais competitivo. Um dos grandes avanços tecnológicos que observei, e que caminha a passos largos, está sendo no setor de tintas (produtos com nanotecnologia; antibactericida e antimofo); inovações em pintura de alumínio; em indústria moveleira; automobilística; linha branca, bicicletas; entre outros”.

Especificamente sobre a área química, a engenheira destaca: “No setor químico sempre haverá algo a ser descoberto, pois, a cada dia, ocorrem rápidas transformações exigindo inovações tecnológicas. Considero que a nanotecnologia e a biotecnologia caminham juntas, associadas a diversas áreas, tais como: eletroeletrônica computação; semicondutores; farmacêutica; tratamento de superfície; tintas e revestimentos. Fosfatos para pintura (em substituição ao de zinco e de ferro); têxtil; cosméticos; produtos de higiene pessoal; entre outros. As tecnologias têm muito a percorrer no setor químico; já dando seus primeiros passos para um futuro promissor. As empresas, hoje, contam com o laboratório do IPT, para avançar em pesquisas e alternativas para tornar os processos mais viáveis em escala industrial”.

Controle de Qualidade

Entre as inúmeras experiências de Ismênia, o Controle de Qualidade foi uma das áreas em que mais atuou. A profissional compartilha sua expertise: “O Departamento de Qualidade sempre será muito importante na indústria, no Tratamento de Superfície ou em outros setores, a fim de controlar os insumos (matérias-primas) até o produto e/ou peça acabados. Empresas no mercado, principalmente fornecedoras de insumos, garantem a qualidade total atendendo perfeitamente as necessidades dos clientes. Com as implantações da ISO 9001:2015 (SGQ) e ISO14000 (Normatização Ambiental), os procedimentos e documentações devem ser atualizados, visando atender as normatizações (ABNT; ASTM Diretiva Rohs e Reach) pertinentes aos setores, tais como as FISPQ’s; Fichas de emergência; plano de calibração de equipamentos e vidrarias utilizados nas análises de controle de qualidade total (tanto no recebimento de insumos como de processos de TS fornecidos aos fabricantes e prestadores de serviços de galvanoplastia); manutenção preventiva; entre outros. A fim de atender todas as exigências da Qualidade, as empresas necessitam investir tanto em equipamentos para análise instrumental (espectrofotômetros de Absorção Atômica AA; espectrofotômetros de Emissão Ótica; medidor de camada por RX; câmera de Salt Spray (para atender a norma ASTM B-117 para realização de testes de corrosão por névoa salina) quanto em profissionais, cada vez mais capacitados e treinados. Assistência técnica ao cliente e apoio ao Departamento Comercial das empresas estão associados diretamente ao pós-venda, principalmente utilizada por fabricantes de processos (formuladores de processos) para acompanhar implantações dos processos novos ou normais de linha; transformações, ao desenvolver novos fornecedores, bem como resolver problemas que geralmente ocorrem em linhas de galvanoplastia”, elucida a executiva.

E, após essa aula sobre o que devem atentar os responsáveis pelo Controle de Qualidade, é nesse contexto de aprendizado que ela expõe a sua conclusão: “Costumo dizer que a jornada do aprendizado é para vida toda e, associado a isso, todos os dias estamos em constante evolução. Aprendi muito em relação às indústrias que visitei, onde, cada vez mais, a teoria era aplicada à pratica. O aprendizado deve ser contínuo, principalmente nos dias atuais onde estamos vivendo com constantes transformações e o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, exigindo profissionais mais dinâmicos, lideres, e com autonomia, aumentando a valorização pelas competências e habilidades adquiridas. Finalizo oferecendo uma dica para o profissional, tanto no setor de Tratamento de Superfície quanto no Químico: acima de tudo importa se identificar com a área escolhida, pois, a partir daí, tudo flui positivamente, através do amor e dedicação. ‘Vestir a camisa’ da empresa em que se atua, seja em qualquer setor, e lembre-se de procurar se especializar, somando conhecimentos – pois nem sempre a teoria aprendida em escolas técnicas ou faculdades é suficiente para associar a teoria à prática, principalmente no setor de Tratamento de Superfície. Quanto às empresas, é necessário cada vez mais investir no profissional da área, com treinamentos e cursos especializados, pois também é uma forma de motivação pessoal”, conclui. 

 

“A vida não é fácil de ser enfrentada, por isso sempre luto e encaro com a fé que vem de Deus e nunca desisto de nada. Procuro viver um dia de cada vez, mesmo que seja cheio de imprevistos, obstáculos e desafios, com garra e determinação, aproveitando todos os momentos da melhor forma possível”.

Ismênia Olinda A. Scavone 

 

 

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