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“É preciso atacar as causas dos problemas e não ficarmos discutindo suas consequências”

Presidente reeleito da Abraciclo, Marcos Fermanian, fala sobre os desafios enfrentados pelo setor que movimenta mais de R$ 15 bilhões por ano

TS 222Entrevista TSEntrevistas 03 de fevereiro de 2021 | Por: Ana Carolina Coutinho

Fermanian: “Embora os níveis de produção a partir de setembro estejam próximo da pré-pandemia, a retração deste ano deverá ficar em torno de 17%”. 

 

O entrevistado deste mês, Marcos Fermanian, está à frente de um de seus maiores desafios: liderar a Abraciclo no que todos esperam ser a retomada pós-pandemia. Atuando há mais de 30 anos no setor, o executivo é profissional da Honda desde 1987, trabalhando nas áreas Comercial, de Auditoria Interna e Serviços Financeiros, e foi reeleito, no fim de 2020, para mais um mandato na entidade, à qual capitaneará até abril de 2022. Fundada em 1976, a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares) representa o Setor de Duas Rodas no Brasil.

 

“O Setor de Duas Rodas é um dos principais protagonistas do desenvolvimento industrial do Brasil, com a produção anual de cerca de 2 milhões de veículos, entre motocicletas e bicicletas, empregando de forma direta 13,9 mil profissionais e agregando quase 40 empresas fornecedoras de peças e componentes somente na cadeia produtiva instalada em Manaus (AM), o que resulta na movimentação anual de R$ 15,1 bilhões”, conta. Nesta entrevista, Fermanian detalha os planos da associação para os próximos anos, destaca como o segmento é cada vez mais relevante diante do cenário atual e faz uma reflexão sobre o comportamento do setor em 2020. Confira. 

 

Quais foram as principais mudanças que vivenciou no setor?

Destaco aqui o investimento das fabricantes para a implementação de avanços tecnológicos e de respeito ao meio ambiente, representados pelo pioneirismo global do Brasil na produção em escala das motocicletas bicombustíveis (flexfuel) e as implantações dos programas de redução de emissões de poluentes e de ruídos, que exigiram mudanças tecnológicas radicais, introduzindo sistemas eletrônicos e sofisticados, aposentando os tradicionais carburadores como um exemplo. Quanto ao mercado, na década de 80 havia poucos veículos Duas Rodas circulando no país. Depois de alguns anos, a motocicleta passou a ser o modal de transporte com maior índice de crescimento, atingindo o seu recorde histórico em 2011, com a produção de 2,1 milhões de unidades no Polo Industrial de Manaus – PIM. No entanto, nos anos seguintes, devido ao cenário econômico, foram registradas quedas consecutivas até atingir ao atual patamar de 1,1 milhão de unidades. Por fim, a mudança e a necessidade de se locomover de modo mais prático e econômico, democratizou o segmento. Hoje, as motocicletas e bicicletas são utilizadas por toda faixa de renda, para o transporte, trabalho ou lazer.

Em algum momento de sua carreira vivenciou algo comparável ao que está ocorrendo hoje?

Não. Não existe parâmetro para o que estamos vivenciando atualmente. O momento é desafiador para qualquer setor. Todos estão trabalhando para se adequar à nova realidade e atender às necessidades do mercado. O planejamento da estratégia nesse contexto será crucial para a sobrevivência. A crise da pandemia trouxe um conjunto de incertezas e, dentro desse cenário, é preciso buscar ainda mais eficiência e produtividade nos negócios para garantir a rentabilidade e sobrevivência das empresas. 

O sr. preside a entidade mais ou menos desde quando a crise econômica ganhou força, antes ainda da pandemia, dois enormes desafios. Quais foram suas principais ações para estabilizar o setor e diminuir os efeitos do cenário negativo?

Em todos os momentos – e não apenas nas crises econômicas – a Abraciclo manteve diálogo constante com os órgãos governamentais e entidades de classe para expor a situação do Setor de Duas Rodas, destacando seus investimentos, desafios e objetivos, visando o desenvolvimento de suas associadas, o incentivo aos avanços tecnológicos, a preservação ambiental e uso adequado e eficaz dos veículos, além de contribuir para um trânsito mais seguro. Temos também que destacar o trabalho das nossas associadas, que souberam aproveitar as dificuldades para lançar e diversificar os produtos. Com isso, puderam atender a uma parcela maior de consumidores, de acordo com suas necessidades e capacidade de aquisição.

E sobre a pandemia, quais foram as orientações da Abraciclo para que a indústria absorvesse os menores impactos possíveis?

Nossa prioridade número um é zelar pela saúde e segurança dos colaboradores. As fábricas se prepararam e adotaram todos os protocolos e as medidas sanitárias recomendadas pelos órgãos de saúde para evitar o contágio do Coronavírus, como, por exemplo,  medição de temperatura dos funcionários antes de iniciarem as jornadas, adequação do layout nas áreas produtivas estabelecendo o distanciamento maior entre os postos de trabalho, disposição de álcool em gel em locais estratégicos das fábricas e aumento no número de ônibus fretados para garantir o transporte seguro das pessoas, entre outras. Enquanto houver riscos de disseminação da doença, essa estrutura será mantida.

Como se comportou a indústria de duas rodas com a pandemia? 

No início da pandemia, Manaus foi uma das cidades mais atingidas pela Covid-19 e as fábricas paralisaram suas atividades por quase dois meses. Com o retorno gradativo da produção, o segmento de motocicletas vem apresentando uma curva ascendente e crescimento sustentável. Embora os níveis de produção a partir de setembro estejam próximo da pré-pandemia, a retração deste ano deverá ficar em torno de 17%. Mesmo diante dessa perspectiva, e sem a possibilidade de recuperarmos a produção perdida, as fábricas continuarão praticando medidas rigorosas de proteção ao contágio do Coronavírus, que afetam diretamente a produção.

 

 “Com a pandemia do Coronavírus e a necessidade de isolamento social, a motocicleta ganhou um enorme pro­tagonismo”

 

Como os aplicativos de entrega impactaram no setor de duas rodas? Nesse sentido, quais as projeções?

Com a pandemia do Coronavírus e a necessidade de isolamento social, a motocicleta ganhou um enorme protagonismo por ser apontada como um meio de transporte seguro para evitar a aglomeração típica do transporte público, além de ser instrumento de trabalho e fonte de renda para as pessoas que passaram a atuar nos serviços de entrega. Nesse contexto, os motofretistas se transformaram em verdadeiros ‘heróis da sociedade’, com seus deslocamentos ágeis e eficientes para atenderem às necessidades da população de todas as cidades brasileiras. Acreditamos que essa tendência é irreversível e as projeções apontam para uma maior participação, concorrência e aperfeiçoamento dos aplicativos.

Quais as principais inovações e tendências do segmento? 

As inovações ocorrerão para os produtos se tornarem cada vez mais amigáveis ao meio ambiente e oferecer maior segurança de pilotagem aos usuários. O Setor de Duas Rodas é muito dinâmico, pois as fabricantes investem constantemente em avanços tecnológicos e no desenvolvimento de produtos cada vez mais eficazes, econômicos e seguros, capazes de surpreender e encantar os apaixonados por motocicletas. A tendência mais imediata está no aumento da categoria scooter, pelo uso urbano e de fácil pilotagem. 

A indústria de duas rodas tem um impacto relevante no cenário brasileiro e impulsiona também outros setores, como o de tratamento de superfície, por exemplo. Como ambas podem trabalhar conjuntamente para elevar a qualidade dos produtos e a produção como um todo, contribuindo para melhorar a economia em geral?

A melhor maneira de contribuirmos para o desenvolvimento e crescimento do País é trabalharmos para o aumento da competividade do setor industrial. Para isto, é fundamental a redução do custo Brasil. É muito importante não só apontarmos, mas também sugerir propostas que eliminem medidas desnecessárias ao Governo, como a burocracia. É preciso atacar as causas dos problemas e não ficarmos discutindo, muitas vezes, suas consequências. Além disso, é necessário que haja uma verdadeira parceria entre as duas partes na busca de melhores soluções para o consumidor. Quando digo isso, falo no sentido amplo, que vai desde a pesquisa, desenvolvimento e implantação de novos sistemas de produção, para melhorar a qualidade e agregar valor ao produto.  

A Associação estima que em 2021 possa haver um maior equilíbrio econômico do setor. Quais são os fatores preponderantes para auferir essa estimativa?

Acreditamos que será um ano bastante difícil pois o mundo todo terá que enfrentar as consequências da pandemia, como o desemprego e a recessão econômica. Portanto, o setor também enfrentará dificuldades e para buscar o equilíbrio irá se valer das oportunidades que o novo ambiente exigirá. Nesse contexto há diversas variáveis que vão desde a demanda por motocicletas até o custo Brasil e o fim do auxílio emergencial, concedido pelo governo federal em função da pandemia, entre outros. 

Como incentivar o consumidor do futuro e no que consiste o novo modelo de negócio da indústria?

O consumidor é influenciado por produtos inovadores, eficazes, econômicos, de design arrojado e, principalmente, que atendam ao seu gosto e às suas necessidades imediatas. É preciso também que os veículos sejam práticos e amigáveis ao meio ambiente. Este conjunto de atributos tem sido a característica marcante dos produtos oferecidos pelo Setor de Duas Rodas no País.

Qual a sua expectativa para a popularização da indústria 4.0? Em sua opinião, quais serão os reflexos imediatos dessa revolução e também quais serão os impactos a longo prazo?  

A indústria 4.0 é uma evolução natural dos processos industriais e reforça o compromisso do uso da tecnologia para se assegurar o desenvolvimento, a qualidade, a maior precisão e a rentabilidade dos investimentos feitos pelas empresas para fabricar e oferecer ao mercado produtos mais modernos e alinhados com os mais renovados e exigentes desejos de compra dos consumidores. 

 

 

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