É o trinômio que conduziu a carreira de Nilo Martire Neto. São quase 50 anos que incluem uma patente em EDP catódica e a implantação de processos inovadores no mercado, contribuindo no próprio desenvolvimento do setor
Engenheiro químico e de segurança do trabalho e meio ambiente. Detentor de dois MBAs, e com larga experiência no setor de tintas, hoje atua consultor técnico e comercial
Nilo começou a trabalhar cedo. Aos 16 anos teve sua primeira anotação na carteira de trabalho em uma metalúrgica, onde aproveitava para visitar laboratórios e conversar com os químicos; surgindo daí o interesse em aprofundar os estudos na área: “Quando me formei no curso técnico de Química do Oswaldo Cruz fui trabalhar em 1967 na Metalúrgica Canco, uma fábrica de latas que também era a dona da marca Dixie, de copos plásticos e da MT de aditivos para galvanoplastia”, conta, revelando que nesse momento conheceu a ABTS, antiga ABTG. “Nasceu ali a minha simpatia!”.
O executivo não parou de estudar: “Conduzi minha formação acadêmica dentro das Faculdades Oswaldo Cruz me graduando em Química Industrial Superior, Engenharia Química e Engenharia de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente, finalizando esta fase de estudos acadêmicos em 1975. Anos mais tarde, em 1995, cursei a primeira turma de MBA Executivo na USP”. Ele mesmo revela que, depois de ser contratado pela Mobil Tintas e passar pelos setores de tintas litográficas e linhas de eletrodomésticos e indústria em geral, em 1971 foi contratado pela Ideal Tintas em Guarulhos assumindo a formulação de tintas para metais. Fiquei nesta empresa por, aproximadamente, 29 anos, sendo adquirida pela Tintas Renner que posteriormente também adquiriu outras indústrias de tintas, como a Tintura, Sayer Lack, Oxford e Polidura. Nesse grupo ocupei diversos cargos na área técnica e gerencial, atendendo segmentos de metais, incluído o automotivo e de autopeças. Essa empresa foi depois de alguns anos adquirida pela DuPont, explica.
Em 1973, a Ideal Tintas se uniu à PPG-USA e o executivo foi o responsável técnico pelo atendimento no ‘Cone Sul’, trazendo as tecnologias norte-americanas ao Brasil. Na época, grandes inovações chegavam ao país aproveitando a boa fase da indústria automotiva. “No início de 1978 surgiu, através da PPG, a Tinta Eletroforética Catódica, (EDP, CATA, CED, KTL, etc.), sendo que havia pouquíssimos tanques com essa tecnologia no mundo. A Ford de São Bernardo do Campo, porém, insistiu em utilizá-la no Brasil e eu, mais uma vez, fui o responsável técnico na introdução da tecnologia para a América do Sul. Esse tanque foi o segundo no mundo fora dos Estados Unidos a utilizar CED”. Nilo encanta-se pelo processo e vai além, cria, juntamente com outros colegas, um produto original. Ele detalha: “Em 1981 após muitos estudos em relação ao tipo de metal usado nos veículos automotivos brasileiros e as condições severas de corrosão, emiti, junto com mais dois colegas, uma patente de EDP Catódica de Alta Espessura, e de ótimo nivelamento, que foi logo adotada pela grande maioria das montadoras de veículos no Brasil, Argentina e outros países latino-americanos”.
1º CETEP da empresa
A patente desenvolveu novos setores dentro da própria empresa. “No sentido de aprimorar a tecnologia por nós patenteada, por minha sugestão, a Renner instalou o Centro Tecnológico de Pintura Industrial – CETEP que, além de prestar serviços de fosfatização, KTL, pintura a pó e líquida, também preparava engenheiros, operadores e executivos nessas atividades”, conta. Nilo, acumulou a gerência técnica do CETEP e lembra que muitos dos profissionais lá treinados abriram suas próprias empresas de prestação de serviço nessas áreas. Aliás, o executivo destaca a tecnologia e inovação brasileiras como consonantes ao do resto do mundo: “O setor de tintas acompanha o que se utiliza de melhor no mundo. Temos, estabelecidas no Brasil, as maiores multinacionais do setor operando com produtos de igual tecnologia às matrizes, além de termos empresas nacionais com capacidade tecnológica também competindo com as multinacionais em mesmo nível de atendimento”, diz. Ele também destaca a importância do segmento de tintas como setor econômico de relevância no Brasil: “O setor é extremamente abrangente, envolvendo toda a cadeia produtiva industrial, sendo um bom termômetro para medir os níveis de desenvolvimento do País. Focando no setor de tintas e vernizes, o segmento vem conseguindo equilíbrio, inclusive com pequena alta, suportando as nuances da economia brasileira, devendo ter um desempenho melhor nos próximos anos”.
Inspirando-o a gostar de tecnologia, inovação e, claro, tintas, Nilo teve duas grandes influências: seus avôs. “Espelhei-me em meus avôs. Um, engenheiro italiano, que veio ao Brasil instalar trens na Santos-Jundiaí, e o outro, um ótimo pintor de igrejas e museus, que fabricava seus próprios produtos. Talvez daí nasceram minhas veias, meio em química e meio em máquinas. Sendo assim sempre fui muito curioso e me considero um aprendiz convicto. Venci todas os desafios que a vida me proporcionou através de trabalho, dedicação, estudo e, principalmente, atuando com ética e paixão nas empresas às quais pertenci”.
A unidade familiar é fundamental para o executivo: “Sempre tive como o pilar mais robusto da minha vida: a família. Espelho-me até hoje nos ensinamentos dos meus pais. Conheci minha esposa, os dois muito jovens, e desde então formamos um único ser, enfrentando, todos os desafios com muita união e amor. Assim, nossos grandes feitos foram a formação de nossos dois filhos, hoje bem posicionados. Tive que, em algumas vezes, decidir entre o pessoal e o profissional e graças aos céus, sempre tive a temperança capaz de contorná-los levando os dois objetivos em paralelo e para frente. Por maiores que fossem os sacrifícios profissionais, eles nunca foram impedimentos para que eu dedicasse todos os esforços para melhor conduzir minha família, incluindo meus pais”, emociona-se.
E, sim, os desafios foram inúmeros. Em 1999, foi convidado a liderar a área técnica de tintas industriais, de uma das plantas mais avançadas na época, sendo instalada pela PPG na cidade de Sumaré, SP: “Era uma das melhores unidades fabris do grupo”, recorda. Logo depois passa à direção de Qualidade Total e, em 2005, vai para Basf. “Em 2009 me desliguei de empresa e percorri outros caminhos, como em empresas de prestação de serviços de pintura, no caso, a Metokote, e diversas outras consultorias, inclusive em empresas automotivas, como a JAC Motors. Também fui, por alguns anos, responsável pela BU de Automação e Robótica para Sistemas de Pintura, na ABB. Atualmente, sou consultor técnico e comercial, principalmente, no segmento de tratamento de superfícies, tintas, revestimentos e de automação”. Durante sua trajetória também atuou como docente em cursos pós-graduação nas faculdades Oswaldo Cruz.
O desenvolvimento do setor
Sobre o segmento, Nilo traça um panorama evolutivo esclarecedor: “No setor automotivo original, iniciei formulando tintas monocamada à base de resinas alquídico-melamínicas. Posteriormente, vieram as acrílicas metálicas monocapas para, mais tarde, surgirem as bicapas, ou seja, a base colorida seguida de um verniz protetor. Com o foco na menor agressão ao homem e meio ambiente, o setor transformou muitas das tintas industriais à base de solventes orgânicos em base água, não havendo nenhuma perda na qualidade do produto final e com mínima modificação de equipamentos e processos. O setor de tintas em pó foi um dos que mais cresceu nas últimas décadas, substituindo grande parte das tintas líquidas industriais. No setor de proteção à corrosão, além do KTL, que é a grande estrela da indústria de tintas industriais, houve avanços gigantescos através de produtos à base de resinas epóxies e poliuretânicas, atendendo a um grande número de segmentos dentro de tintas”, destaca.
Ele também fala sobre os segmentos promissores atualmente: “A tendência será para produtos mais amigáveis ao homem e ao meio ambiente e as chamadas ‘smart coatings’, revestimentos que atendem a uma necessidade específica”, e ainda assevera sobre o futuro a indústria: “Acredito que a tecnologia de filmes adesivos poderá limitar muito o uso de tintas na forma que conhecemos, como já ocorre com algumas peças plásticas. Metais superduráveis, a um custo competitivo, também poderão limitar o uso de tintas anticorrosivas, porém, eliminar completamente o uso de tintas e vernizes é algo, para mim, inimaginável!”.
Por fim, aconselha: “Nunca acreditar que já sabe tudo e está senhor da situação. Este segmento, como muitos outros, exige muita atenção no que ocorre no entorno, com visão aprofundada no futuro. Também não se pode perder as rédeas do negócio, que são possibilitar continuidade da empresa e seus colaboradores em um ambiente seguro em um negócio social e economicamente saudável. As indústrias que compõem este setor sobrevivem e conseguem sucesso financeiro através da inovação contínua de produtos e processos. De olho no cliente e nas tendências do mercado, as indústrias se antecipam nos seus desenvolvimentos oferecendo ao cliente final uma vantagem competitiva em relação a acabamento e proteção de seus artigos”. É o trinômio:
[gallery size="full" ids="4208,4206,4207,4205,4209"]“Todo o ser humano é capaz de desenvolver algo criativo e de sucesso na vida. Para tanto temos que aliar a imaginação, a prática e a teoria. Este trinômio é fundamental para se obter o planejado em um tempo adequado”, conclui.
Acesse o conteúdo original publicado na revista Tratamento de Superfície, edição 218, página 12-14