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Desafios e conquistas na carreira da Dra. Idalina Vieira Aoki


Grandes ProfissionaisTS onlineTS 238 20 de dezembro de 2023 | Por: Portal TS

Na vanguarda da pesquisa em corrosão

Aonde nos levam os desafios? No caso da Dra. Idalina Vieira Aoki à imensa contribuição à pesquisa em Engenharia Química, especialmente na área de prevenção à corrosão. Já se foram 27 mestrados e 15 doutorados como Orientadora, além da fundação, em 1989, do Laboratório de Eletroquímica e Corrosão – LEC, da USP. Tudo começou antes de seu ingresso na Universidade: “A área de Química já me atraía desde o ensino do segundo grau. Eu tinha curiosidade nata por entender conceitos, teorias e alguns experimentos simples dados em classe ou laboratório. Isso fez com que eu prestasse o vestibular para Química e ingressasse em 1974, no Instituto de Química da USP. Ali se iniciava a minha carreira na área de Química. Me formei em 1977 e, depois de formada, a grande dúvida era se iria para a área acadêmica, fazendo Pós-graduação, ou se iria trabalhar na indústria. Eu havia feito estágios em algumas empresas, e, confesso, que o trabalho, às vezes repetitivo, me assustava. No último ano, fiz opção por Licenciatura e por Químico com Atribuições Tecnológicas, em que fiz algumas disciplinas no departamento de Engenharia Química. Nessas disciplinas, percebi a aplicação, na prática, de conceitos vistos em aula. Foi quando decidi fazer a Pós-graduação, mas em Engenharia Química”, diz, e é neste ponto que um de seus grandes desafios se apresenta.

Dra. Idalina conta: “Na entrevista que tive para ingressar na Pós-graduação, um professor me perguntou se eu estava ciente da escolha feita e do desafio que iria enfrentar, por conta da diferença no currículo do curso de Química em relação ao curso de Engenharia Química. Eu disse que o curso de Química tinha feito eu gostar de estudar e, por isso, estaria preparada para enfrentar as disciplinas nunca vistas antes. E assim foi, fiz a Pós-graduação, tendo de ser aprovada em disciplinas que nunca tinha feito na graduação. Confesso que foi o período em que mais estudei na minha vida, mas consegui passar de forma honrosa.”

A carreira na Academia

Sua carreira na Academia continuou e Dra. Idalina fez Mestrado e Doutorado “na área de clarificação de caldos e caldas de açúcar, em 1982 e 1987, respectivamente”. Seus estudos a levaram a ser “Química com conhecimentos na área de Engenharia Química, como os fenômenos de transporte e reatores químicos”, resultando na docência, em 1979, no “Instituto de Química da UNESP - Araraquara, para ministrar as disciplinas ligadas à Engenharia, para que os alunos tivessem o diploma de Químico com Atribuições Tecnológicas”. Em 1984, uma nova empreitada aparece, uma não, centenas: “Fui contratada pelo departamento de Engenharia Química da Escola Politécnica da USP para assumir a responsabilidade da disciplina de Química Tecnológica para todos os alunos do primeiro ano, que eram 700”!

Dra. Idalina considera esse um dos destaques de sua carreira. “A minha formação em Química e com conhecimentos dos fundamentos da Engenharia Química, me ajudou. Foi um período de muitos desafios como o de modernizar e trocar os equipamentos antigos por novos e até propor outras experiências e materiais para as aulas de laboratório. Ter coordenado esse projeto foi um ponto alto na minha carreira. Pois ao final dele, tínhamos os laboratórios com equipamentos de primeira linha, e o diretor da época deu recursos para a reforma dos laboratórios, renovando as bancadas, armários e pisos”, explica e também pontua outra importante situação, detalhando como iniciou suas atividades em corrosão, não distante dos desafios que pautaram a sua trajetória.

Revela a professora: “Outro momento a ser destacado foi quando fui designada a assumir as aulas de Corrosão de Materiais Metálicos, porque a docente responsável pela disciplina tinha solicitado sua aposentadoria e se mudado para o exterior. Esse foi um momento de pavor, pois teria de assumir aulas de assunto no qual não era especialista. Fui conversar com o Prof. Stephan Wolynec, que era o responsável das disciplinas de corrosão no departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, com a Dra. Zehbour Panossian, do IPT, coordenadora do Laboratório de Corrosão, e fiz um curso que ela dava para o pessoal da indústria com muitos exemplos práticos”.

Dra. Idalina com seu esposo e seus pais 

Dra. Idalina com a sua filha, genro e neta.

Esse caso é uma demonstração clara de sua dedicação aos estudos, pois, já Doutora volta a estudar, preocupada com os alunos, a partir de um comportamento que era próprio de sua personalidade: o da curiosidade. Veja: “ Fui cursar a disciplina de Eletroquímica, ministrada pela Profa. Sílvia Agostinho, no IQUSP, e a disciplina de Corrosão do Prof. Stephan Wolynec, ambas em nível de Pós-graduação, mesmo eu já tendo o título de Doutora. Fez toda a diferença eu ter cursado essas disciplinas, pois aprendi muito dos conceitos. Eu era bastante questionadora durante as aulas. Eu tinha de aprender, pois estava dando aulas e ficava aflita a cada pergunta de aluno, pois em algum momento eu não saberia responder. Assim, consegui adquirir formação em área diferente daquela em que havia feito o Mestrado e Doutorado”, revela. A partir daí, a corrosão é um dos temas mais importantes da atividade profissional da Dra. Idalina que é, inclusive, a fundadora do Laboratório de Eletroquímica e Corrosão - LEC, da USP. “O LEC foi fundado por mim, em 1989, e, também faziam parte dele os professores Hercílio Gomes de Melo e Isabel Correia Guedes, que, na época, eram meus orientandos de Mestrado e Doutorado, respectivamente. Depois, o Prof. Augusto Câmara Neiva também foi incorporado à equipe. Assim, por muitos anos, a equipe participou de alguns trabalhos em conjunto e vários alunos foram orientados e formados. Como disse, alguns projetos ajudaram a equipar o laboratório e, hoje, é possível considerar que é um bom e completo laboratório para estudos de corrosão. Atualmente, apenas eu estou no LEC, além dos meus alunos de Mestrado e Doutorado. A Prof. Isabel se aposentou, os professores Hercílio e Neiva foram para outro departamento, e o Prof. Hercílio assumiu um outro laboratório de corrosão, o que me causa orgulho, pois aprendeu e se formou comigo” conta.

Junto à indústria

Como não poderia ser diferente, já que a pesquisa desenvolve as áreas de seus objetos de estudo, suas atividades a levaram a se aproximar da indústria, tendo inclusive realizado muitos projetos junto à Petrobrás, ela detalha: “Durante minha vida profissional, eu sempre fui docente em tempo integral da Escola Politécnica da USP, mas sempre me envolvi com a indústria realizando trabalhos de diagnóstico de casos de corrosão e auxiliando na prevenção ou correção. Assim, além de ter orientado 27 mestrados e 15 doutorados, também realizei vários trabalhos (com dedicação de no máximo 8h semanais, permitida pela USP), o que me manteve próxima da vida real o que faz com que nas minhas aulas eu possa falar de casos reais de corrosão que ajudei a resolver”. No contato com a indústria, a professora enxerga um importante aspecto bilateral: gosto muito dessa interação com o pessoal das indústrias. Há uma troca forte de conhecimentos e eu aprendo sempre com eles. Além desses trabalhos mais pontuais, junto às empresas, eu coordenei projetos envolvendo Corrosão com aporte financeiro da Finep, CNPq, Fapesp e da Petrobrás. Os projetos com a Petrobrás foram muito importantes para eu ter equipado o LEC - Laboratório de Eletroquímica e Corrosão com equipamentos de porte e fundamentais na pesquisa em corrosão de metais, como vários potenciostatos/galvanostatos com analisadores de frequência, MEV, TGA, DSC, Adsorvedor de N2, SVET, FTIR, UV-vis, Confocal Raman Imaging e outros, como para caracterização de revestimentos como câmara de névoa salina, câmara de condensação e UV, freezer (para ensaios cíclicos), câmara de jateamento abrasivo de corpos de prova, dispersor de tintas, medida de espessura e gloss (brilho) de tintas aplicadas e determinação de sais em superfícies a serem pintadas, etc., além de reformas em laboratórios. Esses trabalhos e projetos junto às empresas foram de fundamental importância na minha formação e aquisição de conhecimentos práticos e não apenas advindos de livros e publicações. Esses são muito importantes e garantem o sucesso na pesquisa dos casos reais, mas há detalhes que só se verificam na prática”, diz.

Vale ressaltar a importância da proximidade entre a indústria e a pesquisa, fator essencial para o desenvolvimento de um mercado sustentável e inovador; proximidade que, para a Dra. Idalina, ainda está longe do ideal: “A aproximação da indústria com a universidade ou instituições de pesquisa ainda é muito tímida e, normalmente, há uma busca soluções prontas, evitando o investimento em pesquisa, que tem maior custo e demora para se obterem os resultados. Acho que a mudança de perspectiva e o apostar em trabalhos com boas ideias, seria o correto ‘virar da chave’”.

O binômio ciência e indústria

O investimento em pesquisa pode gerar impactos significativos em um setor; dentre os temas de estudos realizados pela Dra. Idalina, a prevenção à corrosão é observada sob um viés muito mais tecnológico e inovador, é um novo patamar que traz benefícios substanciais para a indústria; vejamos:

“O encapsulamento de um inibidor de corrosão contendo silano e sais de cério, que trata de revestimentos com poder de autorreparação de defeitos mecânicos, usando polímeros com memória de forma. A que trata de desenvolver nanocontainers inorgânicos, como SiO2, TiO2 e ZrO2, e encapsular neles inibidores de corrosão para aditivar tintas que se tornam detentoras do poder de autorreparação. O projeto junto à Petrobrás, em que foram desenvolvidas microcápsulas poliméricas contendo agente de reparação com óleo de linhaça e sais secantes para serem adicionados às tintas e torná-las autorregeneradoras, é realmente o mais importante”. A professora também destacou tese, recentemente defendida, “sobre o encapsulamento de um sistema bicomponente pra tintas com poder de autorreparação sob imersão em água do mar”:

Como se observa foram, e são, muitos desafios na trajetória da professora Dra. Idalina, que ainda falou sobre os desafios inerentes à pesquisa científica em si, pois também nesse setor há evasão, principalmente, por conta do baixo valor das bolsas versus custo de vida: “Hoje, o principal desafio é ter alunos de Pós-graduação realmente interessados e dedicados a fazer pesquisa, com bolsas de valor abaixo das despesas, como é o caso em São Paulo, onde o custo de vida é muito elevado. Em alguns casos, os alunos conseguem a bolsa e, quando arrumam um emprego, largam tudo e não terminam o trabalho iniciado. Às vezes, há o recurso para a pesquisa, mas falta a mão de obra qualificada”, explica.

Para os estudantes que gostariam de se aprofundar na área de corrosão, Dra. Idalina recomenda “estudar muito e se aprofundar nos assuntos, não achando que apenas ouvir os nomes de processos vai ajudar. É preciso ter conhecimento mais profundo para poder atuar de forma competente e responsável”, e continua ao aconselhar quem tem dúvidas sobre se deve seguir na área de pesquisa acadêmica ou na indústria, reforçando um aspecto de bilateralidade exposto anteriormente: “Ir para a pesquisa é bom, pois não se está longe da indústria, pois acho que, cada dia mais, essa aproximação vai ocorrer, por conta da subsistência de ambos os setores, pois, com a indústria interessada, mais projetos e recursos serão colocados na pesquisa e a indústria poderá estar à frente na implementação de técnicas novas e mais sustentáveis se puder contar com a participação da Academia. Todos ganham nessa aproximação e, para mim, é a tendência geral que antevejo. Para aqueles que queiram ir para a indústria, que o façam da melhor forma possível, com dedicação, e sempre com algum estudo em paralelo”, enfatiza.

Laboratório de teste de tintas e preparo de corpos de prova.

 

Sala do analisador por termogravimetria/DSC e o adsorvedor de N2 para medida de área específica e tamanho de poros.

Espectrômetro Raman provido de microscópio confocal com software de mapeamento por composição

Abaixo sala com vários equipamentos (FTIR, UVvis, Zetasizer e microscópio ótico)

Dra. Idalina também deixa claro quem são as pessoas que a inspiram profissionalmente: “Na vida profissional me inspiro em pessoas competentes, com muito conhecimento, que trabalham e são honestas. Não me iludo por aquelas que falam, falam, mas fazem muito pouco e gostam de ser bajuladas ou elogiadas o tempo todo. Tenho procurado agir da forma daquelas pessoas que me inspiram”, relata. E não são diferentes as referências que adota para sua vida pessoal: “Eu me inspiro em pessoas íntegras no caráter, que trabalhem e que sejam leais. A poetisa Cora Coralina é uma pessoa que me inspira. Como uma pessoa de vida e hábitos tão simples, podia conter tantos tesouros em sua mente?”, questiona a professora.

Essas referências não são apenas conceitos abstratos para Dra. Idalina, mas sim diretrizes concretas que orientam suas decisões e comportamentos. “Vivo em São Paulo, em um apartamento, e nas horas vagas gosto ler livros que tratem de filosofia ou biografias de grandes personagens. Gosto de cozinhar e fazer crochê, o que vai me ajudar, quando me aposentar”, diz, revelando ser também detentora de hábitos simples.

Para finalizar, voltemos ao início deste texto; sabe o que aconteceu com aquele professor que a entrevistou perguntando-lhe se ela estava ciente de sua escolha e dos desafios que iria enfrentar na Pós-graduação em Engenharia Química? Ela mesma conta: “Um dia me confessou que admirava minha força de vontade, capacidade e dedicação aos estudos”. Enfim, os desafios, e as suas superações, só podem nos levar a um lugar: ao do reconhecimento.

“Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinhos, outras há que sorriem por saber que os espinhos têm rosas”, disse Cora Coralina.


TENDÊNCIAS PARA O SETOR

Destaques das pesquisas de Dra. Idalina Aoki na área de corrosão

Qual o foco do LEC - Laboratório de Eletroquímica e Corrosão hoje? Quais pesquisas estão sendo desenvolvidas e o porquê de sua importância?

O LEC, hoje, tem foco em estudos envolvendo o desenvolvimento de tintas multifuncionais para serem empregadas como revestimentos super hidrofóbicos, anticorrosivos, autorregeneradores e antiincrustação. Os estudos atuais buscam esses desenvolvimentos pois essa é a tendência dos revestimentos orgânicos, que tenham mais de uma função, com o objetivo de melhorar muito seu desempenho.

Qual a grande novidade em eletroquímica e em prevenção à corrosão? Nessa perspectiva, qual mercado será o maior beneficiado pela pesquisa e qual o futuro/tendência da área?

A grande novidade em prevenção contra a corrosão é o encapsulamento de inibidores de corrosão em nanocontainers ou de formadores de filme em microcápsulas poliméricas para serem aditivados em tintas, tornando-as com propriedades de autorreparação. Ao serem incorporadas nas tintas, essas microcápsulas contendo formador de filme (um monômero) serão rompidas, quando de um dano mecânico, soltando o conteúdo de seu interior, que irá para a região do defeito, formando um filme no sítio do dano, permitindo que a estrutura esteja livre da corrosão até que a manutenção preventiva seja feita, podendo diminuir a frequência dessas intervenções, que são custosas. O defeito não precisa ser preenchido totalmente com o filme protetor formado, bastando a região da interface do metal revestido estar bloqueada para a entrada das espécies agressivas do meio. A corrosão que se alastra sob o filme de tinta, a partir do defeito, não ocorrerá.

Filme cicatrizante de autorreparação


Qual a grande tendência/descoberta em processos direcionados à prevenção da corrosão?

Os tratamentos de superfície de metais, com objetivo de proteger da corrosão, devem envolver processos limpos que não gerem resíduos sólidos, líquidos ou gasosos e obtém camadas muito finas e muito protetoras. As deposições à plasma, principalmente as que ocorrem à temperatura ambiente, na minha visão, são a tendência para o futuro.

Como enxerga o setor de Tratamento de Superfície atualmente, qual a grande tendência da área, em sua opinião?

Esse setor está sempre ávido por novos processos, que sejam sustentáveis e não tragam problemas ambientais, mas que resultem em melhor desempenho.

Microscópio eletrônico de varredura – MEV provido de analisador por EDS da Tescan

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