
Maurício Furukawa Bombonati é Vice‑Diretor Secretário da ABTS.
Como consumidor e profissional com 40 anos atuando no mercado de tratamento de superfície, presenciei inúmeras mudanças de tendência em vários mercados, mas não com a velocidade das transformações que hoje vivemos. Em um contexto industrial, a palavra “ciclo” pode se referir aos ciclos de inovação, que são fases de transformação e avanço tecnológico que moldam a sociedade e a economia; assim, como podemos ter o “ciclo” de vida de uma tendência, como determinante de algumas áreas do negócio de tratamento de superfície, com destaque para a área decorativa e metalização de plástico.
Nos últimos anos, vimos idas e vindas de inúmeros acabamentos decorativos sobre diversos substratos e, sempre que há uma mudança, voltamos a discutir a sua perenidade e qual será o seu ciclo de vida, procurando antecipar quando se dará a próxima transformação.
O interesse por antecipar a próxima tendência tem várias origens, mas uma única convergência: satisfazer o cliente final em pilares como: escala, qualidade, aplicação, preço e mínimos impactos nas áreas ambiental, saúde e de segurança.
Quando um designer está em seu processo criativo, são levadas em conta as limitações impostas por esses pilares, que, por sua vez, são importantes para toda a nossa comunidade de tratamento de superfícies – que oferece condições para que uma inspiração se torne um produto e inicie o seu ciclo de vida.
Neste momento, estamos vivendo algumas mudanças de ciclo nos acabamentos decorativos em inúmeros mercados, desde a substituição de técnicas consagradas até a sobreposição de processos para produzir novos revestimentos.
MUDANÇAS POR SETOR
Algumas áreas importantes da nossa indústria – como automotiva, construção e moda – estão passando por uma mudança de tendência em seus acabamentos.
Certamente, a indústria da moda é historicamente a mais volátil, por conta das renovações de coleção a cada estação do ano, mas agora estamos vivendo um novo fenômeno, o da fast fashion, que acaba reduzindo a vida de um produto e aumentando a necessidade da oferta de maior variedade de acabamentos a um custo mais baixo, algumas vezes sacrificando outros pilares.
Na indústria automotiva, vemos uma decoração minimalista na parte externa dos automóveis – com cada vez menos peças cromadas – ao mesmo tempo que vemos as OEM’s investindo na experiência do condutor, oferecendo inúmeros itens de conforto e tecnologia no interior da cabine, fazendo com que as funcionalidades interativas se tornem primordiais, algumas vezes em detrimento do próprio acabamento interno.
Quando falamos em construção, as ferragens, metais sanitários e acessórios de cozinha e banheiro são as estrelas – e ainda brilham com o seu acabamento cromado; mas já há alguns anos, o padrão entre acetinado a fosco vem tomando espaço, acompanhados por um crescente número de cores – seja a partir de vernizes ou a partir de PVD (Physical Vapor Deposition).
A LÓGICA DO CONSUMO
Como consumidores, a nossa avidez por novidade é movida basicamente por dois extremos: a escassez e a saturação. Em grande parte, as mudanças de tendência são precedidas pela saturação, assim como são criadas a partir da escassez. Com o alto grau de produtividade que a indústria mundial alcançou, um produto ou tendência passa da escassez à saturação em tempo cada vez menor.
Como membro da diretoria da ABTS, que representa a comunidade de tratamento de superfícies no Brasil – que vem sofrendo as transformações no mercado decorativo – a melhor mensagem que posso deixar é a da resiliência e da adaptabilidade.
A mudança é uma das poucas certezas inexoráveis – e será cada vez mais frequente, exigindo de nossa comunidade um constante aprendizado.
Para isso, a nossa associação vem investindo na atualização dos treinamentos para acompanhar os avanços do mercado e oferecer conhecimento, que sempre foi, e continuará sendo, a principal matéria‑prima que move a nossa indústria.